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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

SOLIDÃO

Solidão é... Olhar o telefone, ansioso por um chamado, e ele permanecer mudo. Ouvir uma música e não ter ninguém com quem associá-la. Querer dormir muito, para não ter a consciência de que está só. Não ter ninguém com quem brindar um acontecimento. Sentir frio e não ter um abraço para aquecê-lo. Falar alto em casa, para ter a sensação de estar ouvindo algum ser humano. Ter apenas um prato na mesa, às refeições. Não ter alguém para lhe abotoar o vestido ou lhe ajeitar a gravata. Sair de madrugada, tentando encontrar algum conhecido para poder desabafar. Perceber que não tem um ombro para chorar. Ler o jornal durante as refeições, por não ter com quem conversar. Verificar que a correspondência se resume a contas e extratos bancários. Nunca ter a quem dizer bom-dia, ao acordar. Não ter quem lhe faça um chá, quando está indisposto. Não ter a possibilidade de dividir o mesmo desodorante ou a mesma pasta de dentes. Não ter alguém que lhe impeça o suicídio. E você? Quando se sente realmente só?


3 comentários:

  1. quinta-feira, 27 de julho de 2017
    SOBRE O AMOR E A PAIXÃO
    E que não confundam amor com paixão. Paixão é como essas ervas do
    campo, que explodem em flor em épocas de clima propício. Pela exuberância e
    variação de cores, tornam-se inebriantes. Pena que definhem e morrem à
    primeira estiagem. Amor não. Amor é árvore frondosa, de semente difícil de
    vingar. Cresce aos poucos, mas com raízes profundas. E tão fundo vão as raízes
    que, ainda que a parte visível seja abatida, costuma voltar a brotar. Não é o caso
    de dizer que o amor seja bom e a paixão seja má. No jardim do bem-querer,
    ambos são igualmente desejáveis. Não raro, conseguem até se complementar. A
    diferença é que o amor, a exemplo da árvore frondosa, é muitíssimo mais forte.
    Dura muito mais...

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  2. Sempre é tempo de reflexões!!!







    Extremos da paixão




    Não, meu bem, não adianta bancar o distante lá vem o amor nos dilacerar de novo...




    Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.




    Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.




    No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.




    Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.




    Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.




    Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins...



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