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quarta-feira, 17 de julho de 2013

IDIOTA FELIZ

E se você fosse a uma festa à fantasia fantasiado de você mesmo? Assim, do jeitinho que você é. Todos, claro, iriam repreendê-lo. Até o moço fantasiado de espiga de milho olharia feio para você. As pessoas sempre esperam algo de você, algo que satisfaça as expectativas delas. Em uma festa à fantasia, ir sem fantasia seria como contrariá-las, desobedecendo à ordem estabelecida – e as pessoas não gostam de quem é desobediente, foge à regra, fala o que pensa, vive de acordo com as próprias convicções. As pessoas preferem se fantasiar de outra coisa – até de espiga de milho! – e esperam que você faça o mesmo, omitindo opiniões polêmicas, evitando atitudes “inconvenientes”, escondendo-se sob máscaras sociais “para uma melhor convivência entre todos”. Bêbados, por exemplo, incomodam, porque bêbados costumam pensar em voz alta, o que provoca uma ruptura no sistema medroso de comportamentos “adequados”. Nelson Rodrigues escreveu que “o ser humano é o único que se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo”. É verdade. Falsificamos DVDs, bolsas de grife, relógios e até medicamentos. Mas não só. Falsificamos também mercadorias mais nobres, como os nossos sentimentos e pensamentos e ideias e preferências e gostos e vontades. Não é de hoje que agimos assim. A falsificação e a mentira sempre existiram. Hoje, porém, a coisa parece mais disseminada. Estamos mais expostos e somos mais patrulhados, e para não pagar de démodé, estraga-prazer, "por fora", obedecemos às exigências da moda sem questionar se cabemos nesse vestido. Daí, privados de sermos nós mesmos, nos entupimos de antidepressivos para interpretar esse outro personagem que inventamos para sobreviver neste mundo onde quem demonstra alguma autenticidade é mandado para o sanatório mais próximo. Somos cenográficos. Somos espigas de milho nessa patética festa à fantasia que é a vida.

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