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domingo, 10 de novembro de 2013

DO IDIOTA FELIZ

- O futuro é um lugar muito longe. Pior. É um lugar que nem existe e que a gente nem sabe se vai existir algum dia. Mas, da mesma forma que acreditamos em milagres e príncipes encantados, em lendas urbanas e seres de outros planetas, também acreditamos que vamos chegar nesse lugar imaginário. Eu acreditei. E, de tanto Teodora, minha mulher, insistir, acabei comprando um terreno no litoral, onde construiríamos uma casa. “É nessa casa que vamos viver quando a gente se aposentar”, ela disse. “Mas e se a gente não chegar lá?”, perguntei. Teodora pensou um pouco e respondeu com outra pergunta: “E se a gente chegar?” Minha mulher, infelizmente, não chegou. Morreu antes. Bem antes. Teodora morreu com 32 anos, apenas dois meses depois de eu ter comprado o tal terreno no litoral. Foi um golpe e tanto. Um golpe do qual eu nunca consegui me recuperar totalmente. Casei outras três vezes e, entre um casamento desfeito e outro, em segredo, fui construindo a casa onde Teodora planejara viver quando a gente se aposentasse. Após anos de sacrifício para construí-la, a casa, enfim, ficou pronta, exatamente do jeito que Teodora queria. Ao percorrê-la, lembrei de sua crença no futuro: “E se a gente chegar?”, ela me rebateu. Eu cheguei; ela não. O futuro é mesmo um lugar que não existe. *Da série uma imagem, uma história.

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