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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

INCOMPLETUDES

Minha madrugada só começa quando a vizinha do andar de cima desliga a televisão. São barulhentas – a vizinha e a TV. A criatura inanimada está sempre sintonizada em programas extravagantes. Já a outra prefere o toc toc do salto no assoalho. Quando elas dormem, eu acordo. Para as coisas que só podem ser escutadas graças à lisura do silêncio. Gosto desse momento porque sei exatamente quando acaba o dia e começa a noite: assim que ela desliga a televisão. A certeza desse instante me traz tranquilidade porque não percebo com facilidade os inícios e términos das coisas. Um relacionamento, um trabalho, uma amizade, uma festa, uma caixa de bombom. Para mim, começos e fins são terrivelmente confusos. Sempre me pergunto: será que isso está começando ou terminando? Erro, com frequência. Então, quando a vizinha do toc toc desliga o aparelho, tenho a confiança da chegada da madrugada. E outros bichos – além dos insones – também dão o ar da graça. Denunciam-se o cachorro de uivado sentido e o gato de miado chorado. E são os pássaros, quando cantam às cinco sediados na antiga árvore da rua ao lado, que anunciam o início do dia, ou o fim da madrugada. Ou será, pela ordem, o fim da madrugada e o início do dia? Sei lá. Eu disse. Nunca identifico direito quando começam e terminam as coisas. Mas, de uma coisa sei: minha madrugada só começa quando a vizinha do andar de cima desliga a televisão. E eu queria que na vida os sinais de início e término fossem tão claros assim – feito os sons e cores da madrugada. É pedir demais? Beijo, beijo – e me conta quais são os sons das suas madrugadas? Ok? Okay! Então tá bom!!!

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