Ontem tomei um susto ao olhar a caixa de e-mail. O Facebook tinha me escrito. Não era para avisar que alguém tinha enviado uma mensagem, deixado um recado nem nada do gênero. Era para reclamar da minha ausência. O e-mail dizia:
“Olá, Elzinha, você não acessou o Facebook nos últimos dias; várias coisas aconteceram na sua ausência.”
De fato. Vários amigos – muito ou nada próximos – dividiram seus pensamentos, suas atividades, suas fotos. Suas alegrias, tristezas, reclamações. Seus gostos e desgostos. E eu não estava lá para ler.
Pensei: “Que bom”. Cogitei até responder à mensagem automática: “Olá, Facebook, várias coisas aconteceram na minha vida na sua ausência.”
Coisas. Nada fora do comum. Não viajei, não fui a nenhum show ou restaurante estrelado. Mas fiz algo extraordinário nos dias de hoje: fiquei só comigo mesma, e meus pensamentos. Você se lembra quando foi a última vez em que fez isso?
Costumávamos ficar sozinhos nas filas de bancos, supermercados. Nas salas de espera de médicos, dentistas e afins. Nos almoços e jantares sem companhia. Nas viagens para terras distantes ou nem tanto. Com o celular, não ficamos mais.
Até podemos ficar. Mas logo aquela mensagem chega, aquele aviso toca, aquele tédio bate e pronto, foi-se nosso momento a sós. E foi-se também aquele fio de reflexão que começava a se formar, aquele desconforto, aquela dúvida. Pluft. Saímos do nosso mundo interior de volta para o exterior. Fulano está no restaurante XXX. Beltrano compartilhou uma foto das férias. Sicrana recomendou um link.
Há fatos e informações mais e menos interessantes. Algumas podem até ser úteis para a sua vida. Mas, sempre conectados, deixamos de perceber informações sobre nós mesmos. Do que gostamos. O que queremos. O que buscamos. Para além da próxima atualização.
"Apesar do medo, escolho a ousadia. Ao confronto das algemas, prefiro a dura liberdade. Voo com o meu par de asas tortas, sem o tédio da comprovação. Opto pela loucura, com um grão de realidade" Lya Luft
sábado, 24 de setembro de 2011
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