Se existe uma coisa que admiro e tento (inutilmente) imitar é: gente chique.
Gente chique não manda ninguém tomar nos orifícios - que é uma coisa
muito rude e primitiva. Gente chique fica na sua, como se estivesse em
um trono sob câmeras e holofotes.
Só que algumas vezes a pressão é tão grande e o aborrecimento tão
avassalador, que é lógico: temos que extravasar nossa contrariedade e
colocar ordem no barraco recinto. É aí que entra a simpática figura do
coquinho rolando pelo gramado do palácio, seguida de um bobão correndo
atrás, mostrando os fundilhos encardidos e sendo caçoado pela
criadagem. Eu explico:
"Vá catar coquinho" é a maneira mais simpática que conheço de chutar o
balde sem perder a compostura. A expressão tem a dose certa de humor
que desarma o ser xingado. Desarma porque a intenção era aborrecer,
mas você está se divertindo com ele, que se pretende grave. Se ele
queria te tirar do sério e você retruca com algo rápido, leve e
desinteressado:
- "Você é tão reles mas tão reles que não inspira ofensas muito
sérias ou aviltantes. Sua figura está mais para bobo da corte do que
vilão palaciano. Então vá catar coquinho!"
- "Se eu apreciasse amenidades, riria da sua figura. Mas como você
não chega a tanto, só me resta expressar meu apreço pela sua ausência.
Por favor, vá catar coquinho no despenhadeiro lá da esquina."
- "Uma morte sangrenta é romântica demais para direcioná-la a você.
Sua figura não cabe em dramas, mas em comédias. Não dá nem para eu me
aborrecer a contento. Vá catar coquinho."
Quando você ordena que alguém cate cocos pequenininhos, acredite: você
imediatamente ganha estatura. É imediatamente catapultado do chão à
nuvem mais próxima.
Você de um lado, os coquinhos do outro: quem tem aspecto mais
imponente? Você! E a imagem do seu oponente retirando-se
envergonhado, confuso, com o rabo entre as pernas e uma cesta na mão
indo atrás coquinhos... Não é delicioso? (CRISTINA FARAON)
"Apesar do medo, escolho a ousadia. Ao confronto das algemas, prefiro a dura liberdade. Voo com o meu par de asas tortas, sem o tédio da comprovação. Opto pela loucura, com um grão de realidade" Lya Luft
sexta-feira, 20 de julho de 2012
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