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segunda-feira, 4 de março de 2013

-VOCÊ QUE DISCORDA

-Você, que discorda de mim: ainda assim estamos no mesmo planeta. Estamos no mesmo país, talvez na mesma cidade. Minhas razões são tão sensatas! As suas também. Meu raciocínio é tão claro! O seu também. Meus impulsos são tão espontâneos, minha visão nítida, meu fio de raciocínio segue reto - e com você idem! Então como nos desencontramos? Por quê não nos coincidimos? Por que o que é natural não acontece naturalmente? Por que antes de tudo precisa haver um consenso que jamais haverá? Você está sozinho no planeta. Eu também. Estamos todos unidos em nossas solidões. Então porque a verdade nos separa? Logo ela, que deveria jogar um em direção ao outro! Não tenho nada mais a te falar. Queríamos que fôssemos amigos, que concordássemos e discordássemos das mesmas coisas. Não te cedo a minha verdade nem você me cede a sua, então está resolvido. Adeus a você, que continuará ao meu lado mas com o coração gradeado. Droga! Todos nos agarramos às nossas verdades mesmo sabendo que não sabemos nada sobre isso. Mesmo assim seguramos esses farrapos feito loucos. Pobrezinhos de nós! Tudo o que temos é a verdade que tecemos ao longo da vida, fio por fio, desmoronamento por desmoronamento. Tudo muito sofrido. Não dá pra abrir mão, é o que nos sobrou da vida. Precisamos dessas coisas. Precisamos também uns dos outros. E como precisamos! Estenderíamos nossos braços ao próximo num esforço supremo de afago. Bem que queríamos abraçar por abraçar, deixar-nos tocar, esbarrar, sentir a humanidade atrás dos olhos inquisitivos. Queríamos. Estenderíamos as mãos...desde que não fosse contra as nossas verdades. Desde que não fosse contra nós mesmos, contra o que nos aquieta. Você, que quer meu tempo, meus bens, meu sangue e quem sabe minhas verdades: a você não tenho muito a dizer. A essas alturas da vida pouco nos sobra. Vão-se as ilusões. Às vezes vão-se os sonhos também, vencidos pela vida real. Às vezes vai-se tudo. Estendo as mãos vazias disso tudo para você, mas não toque nas verdades do meu coração. Por elas morrerei como se morre por um filho. CREDITOS cristina F.

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