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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

INSONE ESFOMEADO

Abro o livro e calo meu verbo. Ele se vira na cama. Cobre o corpo como se fosse inverno enquanto o calendário anuncia primavera. Olhe! Uma borboleta pousou em meu braço. Ele diz com a voz embargada que não barganha: Durma! E apague a luminária. Não obedeço. Continuo lendo e sigo com os olhos que precisam ver o voo da pequena borboleta que ainda é criança. Sinto a ânsia de me atrever. Inclino a cabeça para observar seu corpo. Ele dorme. Ergo as cobertas porque preciso descobrir o que elas escondem. Estou cautelosa e rítmica e percebo que o corpo adormecido reconhece minha presença. Insone esfomeada. Eu me altero. Preciso sentir em minha boca o arpão que atravessa peixes. Eu o coloco entre as mãos. O homem suspira em um sono que é leve (seu corpo está desperto). Estou despida e não me distraio. Ouço tiros a duas quadras. Mas a cena está fechada entre nós dois que desejamos iguais. Ele está em meus lábios. Pulsa e se ergue. Engulo o cerne em cheio. Sento ao seu lado e abre os olhos o anjo que é perverso sorrindo e dizendo que conhece meus ataques. Sentimos a mesma fome ou será diferente em cada um? Não quero interrogar. Ouvimos mais tiros. Em um segundo ou dois a madrugada se torna o silêncio de nossa respiração e logo ele está dentro de mim: afoito, translúcido, único. E já não há mais sono. Ele me coloca sobre seu corpo e agora me desfaço em movimentos que não são lentos e que são tão velozes. O arpão está lançado aos peixes. Eu me abro feito livro, asas, janelas de casas. Sou a mulher descansada e trêmula e não nos importamos com mais nada. Sou abraçada, permaneço calada e a luminária que não está apagada nos faz pensar que talvez estejamos em Paris. créditos LETÍCIA PALMEIRA

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