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sexta-feira, 31 de maio de 2013

DIREITO DE GRITAR

Sou sensível, romântica, coração de cristal. A agressão me fere, o desamor me assusta, a solidão me torna pálida. Gosto de ouvir "eu te amo". E não me sacio.Sou carente de afeto e não me envergonho de dizer isso de rosto limpo. Fui criada num castelo de pedras ( Colégio Interno) entre canteiros de rosas iguais aos do filme de Visconti com perfume de Finzi Contini. Amei loucamente Jesus Cristo numa capela cheia de lírios, suando incenso. Tinha medo do inferno e colocava pedras nos sapatos para salvar os infiéis. Sentia o demônio da vida fervendo em mim e sonhava com um Céu onde não haveria rejeição. Tive pouco ou nenhum afeto de minha mãe.Ainda doi esse carinho excluido. Dói muito. A gente sente falta do colo, do calor do corpo, e nunca mais se recupera disso. Passa o resto da vida cobrando dos outros que sejam um pouco mãe da gente. Sou da época em que se acreditava nos homens e nas palavras de amor. E quando na adolescência, descobri que os homens podiam mentir, no meu coração ficou uma ferida aberta. A vida veio e quebrou o meu vaso de cristal. E aí fiquei feito boba, até hoje, juntando os cacos. Tinha sede de viver e tinha medo. Confusa, ficava espiando a vida como quem vê Estrelas Cadentes.Tive todas as tentações de Cristo no deserto. E um dia cedi. Como Fausto, vendi minha voracidade de viver Rompi com tudo... fui a luta. Não sei se valeu. Surrei e fui surrada. Amei, e fui amada e desamada. Na bebida muitas vezes procurei a alma perdida da enfant do Colégio Assunção. Dela só havia vestígios, talos partidos, raízes expostas. Toquei a vida. Fiz redução do estômago.E bebi de um trago todas as amarguras.E isso doi... Essa é a causa da minha falsa alegria, do riso que prego no corpo como os palhaços de circo.E que nada compensa. A minha vida é muito pouco importante para que tudo isso comova alguém. Mas está brotanto em mim como o sangue que pinga de um corte que não cicatriza. E porque preciso falar, porque tudo isso me sufoca, me oprime, me engasga. Na vida me sobrou esse espaço. E o direito de chorar. Tenho saudades da mulher que nunca fui. E piedade pela criança que ainda sou. elza

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